Fotografia/ Francisco Moreira e Gilberto Silva
Pesquisa revela quais plataformas dominam o consumo de notícias no Brasil e como o jornalismo está se adaptando à era digital
O modo como os brasileiros se informam mudou drasticamente nos últimos anos. Se antes jornais impressos e TV eram as principais fontes de informação, hoje redes sociais, plataformas de vídeo e aplicativos de mensagens dominam esse cenário. Mas será que a credibilidade do jornalismo tradicional está ameaçada?
No Scream Festival 2024, um painel reuniu especialistas para discutir as tendências do consumo de informação no Brasil. Os dados apresentados por Maria Paula Almada, diretora do Aláfia Lab, mostraram que Instagram, YouTube e WhatsApp são os meios mais utilizados para buscar notícias.
Instagram e YouTube: a ascensão do consumo de vídeo
A pesquisa revelou que 52% dos brasileiros indicam as redes sociais como sua principal fonte de informação. Dentro desse grupo, o Instagram ultrapassou o Facebook e assumiu a liderança, seguido pelo YouTube.
“A forma como consumimos notícias mudou completamente. O Instagram se consolidou como uma plataforma de vídeo, onde a informação precisa ser transmitida em poucos segundos. Já o YouTube funciona de uma forma diferente, permitindo conteúdos mais aprofundados”, explicou Maria Paula Almada.
Saulo Tácio, estrategista digital da Zygon, reforçou essa visão ao destacar como o comportamento do usuário vem se transformando. “O público quer consumir notícias da forma mais rápida possível. Hoje, formatos curtos e dinâmicos são essenciais para prender a atenção. Um vídeo de 15 segundos pode informar mais do que um texto longo para muita gente”, afirmou.
Além disso, o estudo revelou que o LinkedIn cresce entre usuários de maior renda, enquanto plataformas como Kwai e TikTok são mais populares entre públicos de menor poder aquisitivo.
WhatsApp: quando proximidade gera credibilidade (e risco de desinformação)
Outro dado preocupante foi a força do WhatsApp como meio de informação. Embora não seja uma rede social tradicional, o aplicativo de mensagens é amplamente utilizado para o compartilhamento de notícias – mas com um agravante: a proximidade da fonte influencia diretamente na credibilidade.
“Se uma notícia vem de um amigo ou familiar, a tendência é que a pessoa acredite sem questionar”, explicou Maria Paula Almada. Ela compartilhou um caso pessoal para ilustrar o problema: “Meu pai me encaminhou uma fake news e, quando questionei, ele respondeu ‘mas foi Guto que mandou!’. Ou seja, a lógica era: se veio de alguém próximo, não pode ser falso.”
A pesquisa também apontou que quanto mais à direita no espectro político, maior a tendência de se informar por grupos de WhatsApp, o que reforça a existência de bolhas informativas.
Linda Bezerra, diretora do Jornal Correio, destacou a importância do jornalismo profissional para combater esse fenômeno. “O jornalismo não criou fake news, muito pelo contrário, nosso papel é justamente desmenti-las. O problema da desinformação é estrutural e precisa ser enfrentado com políticas públicas, regulação e educação midiática“, afirmou.
O que esperar para o futuro?
Apesar do domínio das redes sociais, os veículos tradicionais ainda são relevantes. “Os grandes jornais continuam sendo as fontes mais consumidas dentro das plataformas digitais. O G1 e O Globo são os mais acessados no Brasil, o que mostra que ainda há uma demanda por credibilidade”, pontuou Maria Paula Almada.
Para Saulo Tácio, a chave para o futuro da informação está na adaptação: “O jornalismo não vai acabar, mas precisa se reinventar. Quem não entender isso, vai ficar para trás.”