Durante o evento Criatividade Em Pauta, realizado em 08 de maio no Cineteatro 2 de Julho, Priscila Mércia, Relações Públicas e Professora na ESPM, compartilhou reflexões instigantes sobre a essência da criatividade nas comunidades, especialmente naquelas formadas a partir dos complexos processos pós-abolição.
Priscila destacou que as favelas surgiram como uma solução diante da escassez de terras e da ausência de possibilidades estruturadas para a construção de uma vida digna após a abolição. Segundo ela, o afastamento das populações dos centros urbanos, sem um direcionamento claro para realocação, impôs a necessidade de os moradores pensarem de forma inovadora para garantir moradia e segurança. Assim, a criatividade se instaurou como elemento central, presente tanto nas formas de construir o espaço quanto na maneira de organizar a vida comunitária.
Para Priscila, a essência organizacional das comunidades, mesmo que não se enquadre nos modelos tradicionais instituídos pelo poder público, é, por si só, uma fonte de inovação e resiliência. Ela enfatiza que os negócios que nascem nesses contextos são, em sua própria natureza, criativos, fruto da busca incessante por soluções diante da falta e da negligência tanto do mercado quanto do Estado. Essa atitude de autossuficiência, que combina conhecimento e ação, revela o potencial transformador das iniciativas oriundas da própria comunidade.
Outro ponto fundamental abordado por Priscila foi o tratamento dado à imagem das favelas nos meios de comunicação. Atualmente, tanto a mídia quanto os comerciais ainda apresentam uma visão pejorativa desses espaços, o que reforça estereótipos e dificulta a legitimação social dos moradores. Ela observa ainda que, ao mesmo tempo em que cresce o fenômeno dos influenciadores digitais, muitas agências de publicidade recorrem a personalidades que estão longe da realidade vivida dentro dessas comunidades. Para ela, essa distorção contribui para a invisibilidade de um público que, apesar de ser o sustentáculo de diversos negócios, não encontra representação adequada – especialmente em um país onde o consumo de TV aberta ainda é significativo.
Ao abordar o universo do marketing, Priscila defende que é necessário resgatar e valorizar o verdadeiro perfil do consumidor que mantém as empresas de pé. Esse reconhecimento passa, em primeira instância, pelo rompimento com a invisibilidade e pelo compromisso de refletir, em todas as ações, a riqueza cultural e a força criativa dos moradores de comunidades. Seja em iniciativas de menor escala ou em grandes campanhas, a transformação dessa realidade passa pela legitimação e valorização desses espaços e de suas histórias.