Tata Ribeiro é uma ativista comprometida com a inserção de mulheres negras e pessoas negras no campo da tecnologia. Com uma sólida formação acadêmica, mestrado em design, mestrado em gestão e tecnologias aplicadas à educação, doutorado em educação pela UFBA. Ela vem desafiando paradigmas desde 2014, quando iniciou sua carreira trabalhando com jogos. Atualmente, como product manager na Aimọ Tech, Tata alia a gestão de projetos de software à idealização do Black XP Game Jam, evento que visa democratizar o acesso e a participação no universo dos games e das tecnologias digitais.
Em suas iniciativas, Tata ressalta como o grande problema do sul global é o chamado gap digital. Segundo ela, enquanto a população brasileira está permanentemente conectada à internet, essa imersão se dá predominantemente no papel de consumidor, e não do criador. Em um país onde o mercado de games movimenta milhões de dólares e representa um setor mais robusto do que o cinema ou a música somados, a concentração de oportunidades na mão de poucos, majoritariamente homens brancos, reforça a urgente necessidade de reverter esse cenário. A representatividade, que atualmente conta com apenas 11% da força de trabalho negra na tecnologia, evidencia o desafio a ser superado.
A resposta para essa desigualdade é o Black XP, projeto concebido para capacitar jovens e adultos na área da tecnologia e dos games, ao mesmo tempo em que promove a diversidade. Tata compartilha sua experiência pessoal ao organizar eventos voltados para a inclusão, relatando que, em um curso de tecnologia, a participação feminina era exígua; apenas duas alunas, sendo uma delas negra. Para ela, a mudança precisa começar na fase de decisão de carreira, e por isso, o projeto foca em adolescentes entre 14 e 19 anos, preparando-os não só para o mercado de trabalho, mas também para o uso seguro e consciente das tecnologias. Durante a maratona de desenvolvimento de games, os participantes têm uma semana para transformar ideias em jogos, revelando seu potencial e abrindo caminhos para novas oportunidades profissionais.
Parcerias estratégicas são um dos pilares do Black XP. Com o apoio de empresas e instituições como Ford, Cendec, Vale do Dendê e Harum, o projeto oferece não apenas a oportunidade de desenvolvimento tecnológico, mas também acesso a ferramentas modernas, mesclando softwares livres com soluções de mercado que permitem aos participantes aprimorar continuamente suas habilidades. Essa formação integra diversas áreas da economia criativa, abrangendo desde a criação de personagens, roteiros, animação e produção musical até o desenvolvimento audiovisual, ampliando o leque de competências e oportunidades de inserção no mercado.
Outro aspecto crucial da iniciativa é a aposta na descentralização. Tata Ribeiro enfatiza a importância de interiorizar a formação, garantindo que jovens de cidades menores, como Feira de Santana e outras regiões do Nordeste, tenham acesso às mesmas oportunidades presentes nas grandes metrópoles. A visão é mostrar que, mesmo permanecendo em sua cidade de origem, é possível construir uma carreira sólida em tecnologia, sem a necessidade de deslocamento para centros urbanos maiores.
O compromisso com a diversidade não se restringe à questão racial. Nos eventos promovidos pelo Black XP, há uma preocupação especial com a inclusão de mulheres, pessoas trans e mães, que muitas vezes enfrentam desafios adicionais. Espaços dedicados para crianças, por exemplo, possibilitam que mães participem plenamente das atividades e desenvolvam seus projetos com tranquilidade, reforçando a importância de um ambiente acolhedor e inclusivo para todas as pessoas.
A trajetória de Tata Ribeiro e suas iniciativas demonstram como é possível transformar o panorama da tecnologia no Brasil por meio da educação, do estímulo à criatividade e do compromisso com a diversidade. Ao ampliar os horizontes de jovens talentos e promover a representatividade em um mercado bilionário, ela não somente abre portas para uma nova geração de profissionais, mas também contribui para a construção de um futuro mais equitativo e inovador na economia criativa.
O impacto do Black XP Game Jam, com seu formato inovador de maratona de desenvolvimento de games, inspira não apenas aqueles que desejam ingressar na carreira tecnológica, mas também a repensar todo um sistema que precisa ser mais justo e inclusivo. Em um cenário onde tecnologia e cultura se entrelaçam, iniciativas como essa apontam para um futuro onde cada pessoa, independentemente de sua origem, possa ser protagonista na construção digital do país.